segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Um dia de Meredith Grey

Nada é por acaso. Frase mais cliche que existe, mas também uma das mais verdadeiras (e consoladoras). Estava eu atoa e entediada em mais um dia de férias quando minha mãe me chamou pra ir na creperia com umas amigas, segundo ela uma das amigas tinha uma filha que morava na África e outra que era formada em medicina na Uniube (onde eu também faço medicina). Claro que eu nem me interessei pela que era formada em medicina, só queria saber da África, já pensando em largar tudo e viver como ela.
Depois de um tempo que cheguei elas chegaram, e a médica sentou do meu lado, nem dei moral, queria ver o que a África tinha pra contar pra gente. Ela estava com uma amiga, só conversava com ela, e baixo ainda, triste né. Então comecei a bater papo com a médica, quando de repente a mãe que estava do outro lado da mesa (uma figura) gritou "Paula, leva a Lorena pra assistir um plantão seu, não sei pode não mas leva assim mesmo" e na hora eu já pensei "opa pera". Ainda bem que nem tive tempo pra pensar, quando vi minha mae já estava combinando o horário que ia me deixar na casa dela no outro dia.
Cheguei lá toda de branquinho, nervosa, com vergonha, etc. O hospital que ela daria plantão era o Municipal de Uberlândia, eu não conhecia, mas todo mundo fala muito bem de lá. No caminho ela me contou do hospital, de alguns pacientes, falamos da Uniube, professores, outras faculdades, várias coisas, já estava adorando ali.
No hospital ela me apresentava como amiga, fiquei feliz que os outros médicos era todos muito legais com a gente, uma outra formanda da Uniube também estava dando plantão, conversei muito com ela também. No começo os amigos brincavam "você é louca de trazer ela aqui? vai querer desistir hoje mesmo", mas eu sei que eles não estavam falando sério, porque quando eu vi eles com a mão na massa, dava pra ver o brilho nos olhos.
O primeiro paciente que visitamos era um senhor que estava com dificuldade para respirar, já estava fadigando, depois de muita insistencia elas decidiram que era melhor entubar, então eu assisti minha primeira entubação. Confesso que fiquei muito agoniada, de perto assim dá impressão que o médico está machucando o paciente, mas depois a Paula me explicou que os medicamentos usados pra sedar são muito bons e que não é preciso ter dó, o paciente não sentirá e nem se lembrará de nada.
O segundo paciente estava só esperando a morte, tava bem alucinótico já, ele foi entubado só pra ter conforto, vi a médica conversando com os familiares e olha, foi tenso, quase chorei, vi a entubação dele também, que sangrou muito porque ele já estava com o esôfago muito prejudicado.
Entubação é muito Grey's Anatomy, só que mais demorado e com muito catarro e sangue.
Esses dois pacientes levaram a tarde toda, eu já estava exausta, sendo que não fiz nada (imagina as médicas). Mas acho que hospital é um lugar que suga muito nossa energia, os pacientes sem querer tomam a nossa, por estarem fracos e na maioria das vezes tristes, e acho que é por isso que eu fiquei tão cansada. Porém, fiquei cansada mas me senti preenchida de alguma forma, saí de lá feliz, como se tivesse sido útil, ou como se fosse aquilo que eu deveria estar fazendo mesmo. Talvez seja porque eu estava tão atoa nas férias que qualquer coisa me preencheria, mas prefiro pensar que é porque fiquei realizada mesmo. Só faltou o Derek.
Nada é por acaso, porque agora vou começar o quarto período bem mais animada, nem tô pensando na África mais (mas ainda admiro muito). Só espero que isso não passe logo.

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